Uma novela para a RTP/A…

Na esperança que poucas pessoas me leiam, admito que as telenovelas me fascinam um pouco. Alto lá, não costumo ver novelas e quando me perguntam se as vejo, respondo logo “Eu? Claro que não!” com ar de desprezo e indignação.

Mas é verdade, por vezes conseguem ser tão viciantes como o tabaco. Acho que (e agora tentando forçar uma análise freudiana digna de um aluno do 1º ano de psicologia) talvez seja um bocado pelo “fenómeno Zé Cabra” - é tão mau, tão mau, que simplesmente não conseguimos deixar de o ouvir.

No outro dia, sentei-me a fazer zapping e, na falta de melhor, acabei a seguir uma telenovela da TVI (“Dei-te o Amor” ou “Fala-me de Tudo”, qualquer coisa assim…). Por qualquer trama maquiavélico do destino, no dia seguinte o mesmo aconteceu. Ora, o que sucede é que vi aqueles dois episódios e 1º- fiquei logo a saber quem eram os bons e os maus, 2º- já adivinhei por alto o fim da novela, e 3º- estou genuinamente curioso em saber o que acontece à Joana e ao Pedro…

O que me espanta é o dom das novelas em prender o espectador. Naqueles breves minutos, reparei que 60% dos actores representavam um pouco mal, sendo que os restantes 40% representavam muito mal. Se usarmos uma unidade de medida como metáfora, reparei também que o enredo em si durante os dois episódios avançou cerca de 0.02 centímetros. Que gente para encher chouriço aquela, é impressionante…

Todavia, e apesar de atentar nisso tudo, quero mesmo ver se a Joana acaba com o Pedro, mesmo tendo a certeza de antemão que vão casar e que a má (sei que é a má porque é a que está sempre muito mal penteada) vai acabar na cadeia ou sozinha e triste.

Já o disse a colegas meus, e reitero aqui, que se devia criar uma cadeira nas faculdades para estudar este fenómeno. Devia haver um doutoramento qualquer em novelas, até podia chamar-se Epistemologia do Entretenimento nas Narrativas Novelísticas (os professores nas universidades preferem os nomes das cadeiras assim, parece mais intelectual).

Aconselho mesmo a RTP-Açores e produzir uma telenovela, subia logo as audiências. Até posso escrever o guião se quiserem. Seria assim: o Narciso está apaixonado pela Lucrécia, mas os pais da Lucrécia não aprovam o namoro porque o Narciso é pobre e a Lucrécia é rica. No entretanto, a Antonieta é muito má e quer ficar com o Narciso, por isso ela mete uns pozinhos na bebida da Lucrécia para ela parecer maluca e ficar presa num manicómio. Mas o Narciso descobre tudo e salva a Lucrécia. Os pais ficam muito contentes e aprovam o casamento. A cena final é o matrimónio, muito bonito, e a Antonieta é quem acaba no manicómio-prisão.

Que me dizem, está vendido?

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