Preservativo nas palavras



Conheço algumas pessoas que não usam preservativos nas palavras. Decerto todos nós temos um amigo ou uma amiga assim, um pouco inconveniente nas alturas erradas e boa pessoa quando não é preciso.

Sou um tipo silencioso e introspectivo por natureza e não gosto de opinar sobre assuntos que não domino. Deve ser por isso que estranho quem toma Viagra para a língua e diz o que pensa assim sem mais nem menos.

E isso a propósito de quê?, perguntam e bem. Ainda há dias, estava eu sentado a tomar o meu café pós-almoço quando entraram duas pessoas que nunca vi. Assisti, sem querer, a um momento único que se desenrolou ali à minha frente numa questão de minutos.

A primeira pessoa disse à segunda: “O Pedro está meio chateado hoje. Acho que discutiu com o filho porque o apanhou a fumar”. Quando esta pessoa saiu, entrou outra que se juntou à segunda. Esta apressou-se logo a narrar: “Ouvi dizer que as coisas estão tremidas entre o Pedro e o filho. Apanhou-o a fumar, e devia ser um charro para ele ficar tão chateado”. Quando a segunda pessoa saiu, a terceira agarrou no telemóvel e ligou a uma quarta, contando chocada: “Sabias que o filho do Pedro anda metido na droga?”

Achei um piadão.

Ora, este pequeno episódio aplica-se a quase tudo na nossa terra onde, por ser pequena, existe uma rede viária de enredos vastíssima. Um boato passa a suposição, a suposição a certeza, e a certeza a facto num ápice. E porquê? Porque as pessoas não sabem onde vivem e não usam preservativos nas palavras.

Não me coloco num pedestal de decência. Admito que, como qualquer ser humano que se preze, às vezes “corto na casaca” daquele que parece ter enriquecido depressa demais ou daquela que está mais gordinha desde que casou. Mas daí a deduzir e afirmar com certeza que aquele tem dinheiro porque anda a roubar ou que aquela engordou porque engravidou do irmão do marido vai um grande passo.

Moral da história: tenham cuidado com o que dizem. Vivemos numa ilha, as histórias correm depressa e reputações que levaram anos a criar desmoronam-se em minutos porque alguém falou demais sobre o que não conhecia. Como se sabe, é bem mais fácil limpar a reputação de caridoso do que a de ladrão.

PS- Apenas uma palavra de apreço ao coitado do filho do Pedro, que já é conhecido como drogado quando de repente o máximo que fez foi dar uma passa no Além-Mar do amigo. E talvez até se tenha engasgado porque não sabia tragar…

1 comentário:

  1. EH PÁ, QUANDO COMECEI A LER O POST AINDA PENSEI QUE ERA PARA MIM! DIZER CENAS SEM PENSAR E TAL :) MAS DEPOIS CONCLUI QUE ISSO REFERE-SE A CORTAR NA CASACA SEM RAZAO! EU CORTO COMO UM DEMONIO NA CASACA E SEM PENSAR NEM FALAR BAIXO MAS É SEMPRE CHEIO DE RAZAO !!!!

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